sábado, 29 de maio de 2010

No coletivo...

Entreouvido no busão

-Motorista, pode me avisar quando chegar ao final da Avenida do Contorno?
Outra senhora para a trocadora:
-esse ônibus passa na Rua Leopoldina, (e ante a resposta positiva) pode me avisar quando chegar?
A trocadora, meio distraída:
- posso sim mas vc tem de me lembrar quando chegar lá, ando com a cabeça muito ruim esses dias.
Outra passageira para a amiga;
-Deus me perdoe, mas não acredito nesse negócio de disco voador...

sábado, 22 de maio de 2010

No Brasil os séculos não passam, eles se superpõem..

Nos jornais, espantados: os concursos de miss, miss Brasil, miss mundo e coisas assim
bombando novamente; jovens jornalistas tentando entender o ressurgimento de algo que parecia morto e enterrado sob toneladas de cafonice e mau gosto. Como em outras coisas que pareciam extintas e ressurgem, não vejo a razão do espanto: imagina, tuberculose, febre amarela, dengue, ABBA, Creedence Clearwater Revival – mas isso acho que não conta pq sempre que os sobreviventes de alguma banda caquética no hemisfério norte precisam de uns caraminguás pra pagar o asilo e as drogas dos dinossauros do pop pré-histórico, aportam por aqui, por que sabem que sempre serão bem recebidos. Mas e um tal de sertanejo universitário??? Dois conceitos altamente carregados de suspeitas e mal entendidos culturais... Juntos??? Sei não... A barra ta pesando demais.
Depois; novelas e programa de televisão em geral sendo levado a sério nos cadernos B dos grandes jornais; evangélicos de classe média, meninos urbanos fumando cigarros de palha como se fosse o must..
É como um pesadelo em que os anos sessenta voltassem com força, mas somente com o seu lado pavorosamente kitsch, de um mau gosto perverso e cafonice além de qualquer delírio...
Dá a sensação que a qualquer momento vamos ver as matronas com cabelos espetados de laquê, saltos e vestidões –a burguesia marchadeira da ditadura militar – desfilando nas principais avenidas das capitais por Deus, Pátria e Família contra o comunismo ateu. Por favor, me acordem antes que eu morra no sonho como as vitimas de Fredy Krugger...

sábado, 15 de maio de 2010

Só dói quando eu rio

Os jornais de BH dizem que há uma onda de crimes denominados “saidinha bancaria”, na capital, no curioso jargão midiático que reduz toda tragédia a pilhérias idiotas; tal delito consiste, aparentemente, em bandidos que seguem pessoas que acabaram de sacar quantias significativas nos terminais dos bancos, assaltam e freqüentemente matam o incauto. A mesma reportagem informa que as autoridades (mais ou menos) competentes já acharam a solução para o problema; à moda das provas de múltipla escolha convido meus três leitores a adivinhar a solução encontrada:
a- Prender, julgar e condenar os facínoras.
b- Forçar os bancos a oferecer mais segurança para os clientes que lhes proporcionam os maiores lucros do mundo no setor.
c- Proibir as pessoas de usar celular no interior das agencias
d- Dar coletes a prova de balas para todos que precisarem sacar umas merrecas.
e- Recomendar as pessoas que tenham juízo e parem de ficar sacando dinheiro a torto e direito.
Tenho certeza que, conhecendo bem a clarividência, senso de realidade, empenho e discernimento de nossas já referidas “autoridade (quase) competentes” ninguém teve a menor dificuldade de acertar a pegadinha. Pegadinha???? Opssss..melhor não dar idéia...

sábado, 8 de maio de 2010

The Sarah Silvermam Program

Devo dizer logo de cara para não deixar duvidas de qualquer espécie: essa é a melhor série de TV em tempos recentes (tempos que tem se destacado por excelentes séries televisivas – o capital financeiro e criativo tradicionalmente investido nos filmes parece estar se deslocando para esse ramo do entretenimento áudio visual) para o meu gosto particular. Uma jovem senhorita de trinta e poucos, desempregada, completamente amalucada, com um senso de humor ultrajante, desbocada e sem limites, que enfatiza – para debochar – seu judaísmo e do vitimismo spilberguiano que normalmente acompanha o tema. Sem nenhuma preocupação com a moral e os bons costumes. E melhor ainda, sem nenhum compromisso com o “bom gosto” ou o politicamente correto, ou correção de qualquer tipo;
Tipo um Woody Allen sem a pretensão intelectual e infinitamente mais radical em sua visão ácida e corrosiva, sem a “crítica construtiva” (como os Simpsons) e sem boas intenções de qualquer tipo.. Mais para os Marx Brothers só para ficar na riquíssima tradição de comediantes judeu-americanos... E muito, muito engraçada.
A série só durou 3 temporadas, ao menos no que passou na TV ou encontro na Net pra ver, e acho que foi muito, pelo radicalismo surrealista, quase dadaísta com que é escrita e interpretada pela protagonista homônima e sua irmã Laura. Longa vida pras duas.
Impossivel não ligar o que fazem ao ambiente dos cabarés na Alemanha dos anos 20/30 do século passado, onde a inventividade, ousadia existencial e experimentalismo em musica (Brecht e Kurt Weill) e teatro deu pretexto – como se precisassem disso – aos nazistas para reclamar de uma “decadência e corrupção” com que os judeus contaminavam a juventude ariana do país. Não deixa de ser curioso que hoje em dia, os tempos cínicos e desprovidos de parâmetro moralizante, onde, por exemplo, o crime organizado se entranhou de vez na vida cotidiana que é impossível distinguir a ação corporativa “legitima” do gangsterismo mafioso de outros tempos, tudo passe despercebido e se confunda na paisagem geral da diversão descomprometida. Nada ofende aos conservadores que aceitam tudo pq sabem que nada vai perturbar seus ganhos e status. Como costumo dizer: tempos estranhos esses.