quinta-feira, 24 de fevereiro de 2011

Celebridades de Proveta

A fabricação em série de “celebridades” não deixa de me intrigar. O produto final da industria cultural pode não ter utilidade, mas tem objetivo. Em tempos mais ou menos remotos o interesse do povo se voltava para a vida dos ricos: colunas sociais contavam das festas, viagens, escândalos, casamentos, separações, orgias e coisas assim. O Rio de Janeiro, com sua bela paisagem e seus habitantes novidadeiros e criativos sempre lançava moda nessa área, como em outras: nos anos 60 era comum os jovens bem nascidos se juntarem em bandos para “currar” – há quanto tempo não se “curra” mais ninguém, bons tempos aqueles – inocentes virgens que faziam parte das bacanais e queriam ir embora antes da hora.
Tinha até uma instituição quase oficial de jovens plaiboys, o Clube dos
Cafajestes, que se notabilizou nessa atividade tão tipicamente nacional.
O povo acompanhava tudo com avidez nas paginas do O Cruzeiro e Manchete, publicações de altíssimo nível que precederam os canais de TV aberta nessa tarefa de educar e informar os brasileiros. Mas isso tinha um problema sério; era um foco de descontentamento social por que acabava por evidenciar o fosso entre pobres e ricos – classe media é uma invenção recente – porque atraia a atenção dos desvalidos para os excessos do modo de vida dos poderosos. Se isso fascinava e encantava de modo basbaque e inofensivo, também fomentava o ódio social. Depois das muitas revoluções e revoltas populares, seqüestros e assaltos milionários, chegando até à instauração de regimes comunistas no século XX, no mundo inteiro, os ricos aprenderam o valor da discrição. Ninguém hoje em dia sabe quem é o dono do McDonalds, da Coca Cola ou da GM. Um ou outro mais vaidoso que se expõe um pouco mais como esse Eike Batista ou o indefectível Antonio Ermírio de Morais, mas sempre dentro dos limites do aceitável para os tempos atuais. Então o mistério tem resposta simples: celebridades de granja – produzidas em fornadas por programas do tipo reality show, ao contrario das celebridades caipira – produzidas pelos meios convencionais – tem a finalidade de atrair o olhar da plebe e desviar sua atenção dos ricos de verdade. Quer dizer, acabam produzindo um tipo de cordão sanitário midiatico de caráter diversionista que é muito útil para a velha classe dominante que pode continuar com sua vida de luxos e devassidão longe dos olhos ávidos do populacho.

terça-feira, 15 de fevereiro de 2011

e... ... se Cristo fosse casado?

segunda-feira, 7 de fevereiro de 2011

Drácula x Frankenstein

Já comentei aqui em outro post que gosto de bancas de saldos das livrarias; um achado recente foi o livro de memórias de Antoly Sharansky - "Não Temerei O Mal" - judeu-russo acusado pela KGB de espionagem para Israel que teve seus dias de fama nos anos 70/80, por sua queda de braço com um império soviético já meio perrengue. Sharansky, um sionista fanático, acabou cumprindo 8 anos de prisão em Lefortovo e outros estabelecimentos do GULAG, então em plena atividade. Ele foi acusado e condenado por espionagem a favor de Israel, crime que nega veementemente, mas não sei se merece crédito. Ele e a KGB não são flor que se cheire. O infame Comissariado para Defesa do Estado (soviético) tem culpa no cartório que não acaba mais; só a administração dos campos de prisioneiros nos tempos de Stalin lhe garante lugar de honra entre as instituições repressoras mais truculentas, cruéis e letais da historia. Depois de cumprir sua pena Sharansky acabou ministro do governo de Israel com o qual rompeu por achar que o tratamento que davam aos palestinos era por demais suave. Já se vê que o camarada não era boa bisca. Mas gosto de historias reais de prisões e principalmente dos que sabem escrever sobre sua experiência, e isso ele faz muito bem. E quando ele descreve a vida no GULAG isso bate direitinho com o testemunho de outro preso famoso, Alexander Soljenitsyn em suas próprias memórias de ZEK – o preso político soviético no jargão das prisões.
Não era moleza mesmo. Mas o que me interessou de fato em seu relato foram suas observações no final da obra, quando ele já está livre, em Israel; por exemplo: um dia no elevador do hotel, entre homenagens e recepções festivas, o chefe de uma família de brasileiros, com a patroa e prole a tiracolo, o aborda, e com um abraço efusivo, como se fossem íntimos de longa data, pede à sua mulher – dele, brasileiro – que tirasse uma foto sua ao lado de Andrei Sakharov - outro dissidente russo, cientista, físico de renome, considerado o pai da bomba A soviética, que se achava e milhares de quilômetros de distancia. Pode ter algo mais brasileiro que isso???
Depois tem algo muito significativo quando ele nota que em certos momentos quando se vê envolvido na maratona de homenagens, coqueteis e festividades, e principalmente pelo assédio da imprensa, com sua superficialidade, futilidade e ignorância que parece ser universal – quase sente saudades dos dias de cárcere onde podia ter, de certo modo, mais paz de espírito, capacidade de reflexão e concentração – com mais integridade mental e senso de objetivo. Quase dá para simpatizar com o sujeito.