terça-feira, 6 de julho de 2010

Questão de Ponto de Vista

Christa Schroeder foi secretária pessoal de Hitler durante todos seus anos no poder (1933/1945) até os dias finais. Encontrei seu livro sobre esse período de sua vida, em uma dessas bancas de encalhes das livrarias, com desconto, o que é uma injustiça, pois apesar de não trazer propriamente novidades nem grandes lances políticos, é muito revelador dos aspectos, digamos, humanos, em falta de palavra melhor, da pessoa do Fuhrer do terceiro Reich, e seu staff, de quem viveu próxima, nos momentos cruciais. Certas curiosidades maliciosas ressaltam do relato, que ao invés desqualificarem a obra, acrescentam credibilidade e relevância. Por exemplo, o modo como, quando ela percebe que esta sendo reverente e elogiosa demais com o chefe, salpica uma ou outra critica ao longo do texto, meio que para se desvincular das ações nefastas do velho Adolf e sua turma. Mas o mais interessante mesmo fica bem para os dias finais, quando, com o exército soviético às portas de Berlim, e o fim inevitável se anunciando no horizonte, ela destaca com nitidez o estado de animo do chefe que, segundo suas palavras, se mostrava desiludido e amargurado com a maldade humana. E a fonte imediata desse estado de espírito é explicitada com sua convicção na traição dos comandantes da Wermacht e das SS, que por sabotagem ou incompetência não obtinham as vitórias necessárias ao alcance de seu projeto de conquista. E os soldados por não lutarem com mais coragem e empenho. E certamente se sentiu traído pela perfídia da resistência das “raças inferiores”, principalmente dos russos, que não se deixavam abater com o mesmo fatalismo e espírito de sacrifício que os judeus nos campos de extermínio. O maior incomodo e perturbação causado da leitura, entretanto é como fica evidente que a grande “qualidade” do velho genocida não foi sua desumanidade, mas ao contrario, a concentração, no mais alto grau de características muito humanas, que percebo ter encontrado em muita, mas muita gente mesmo, ao longo da vida. Esses apenas não as possuíam no mesmo grau e nem acharam terreno fértil para desenvolver seus próprios projetos.

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