terça-feira, 27 de outubro de 2009

O País dos Minineros

É uma viagem comum, de rotina, que faço com freqüência da capital para o interior. Meados de setembro, final do período seco. Vegetação desidratada, ar ressequido, poeira e folhas secas por toda parte.
Logo na saída, há uns 40 km, trânsito retido, com a tradicional fila interminável de carros parados prenunciando o desastre recorrente que passa a fazer parte da paisagem, nessas viagens. Quarenta minutos depois, pista liberada, posso ver 3 caminhões e quatro carros semidestruidos, ainda fumegantes, sendo removidos para as margens. Joga-se serragem sobre o combustível derramado, retiram-se fragmentos de cargas e pedaços de veículos. Procuro não olhar diretamente para os veículos ou pessoas feridas deitadas no acostamento.
Nada disso me impressiona muito, atualmente. Nem os números, absurdos, nos quais só se pode acreditar porque os vemos acontecer diante dos olhos todos os dias. Falam em 50.000 mortos em colisões e atropelamentos por ano no país. Isso somente dos que morrem no local, sem contar falecimentos após o atendimento imediato, quando tem.
É mais gente morta no período de um ano que em qualquer guerra moderna. Mas, como disse isso não impressiona mais. Muito mais espanto causa o tratamento dado pela mídia, jornais e televisão, que sempre falam em “acidentes causados pela chuva” ou pelas “más condições das estradas” como se isso fosse possível. Quando muito concedem algum credito a “falhas humanas” como se existisse outro tipo de falha.
A viagem continua, e um pouco mais a frente sou envolvido e ultrapassado por um bando ruidoso e ziguezagueante de motoqueiros que, festivos e barulhentos, somem na próxima curva, como um enxame de abelhas gigantes. Em minutos os encontro novamente, recolhendo partes de maquina e corpo de colega que, ao que parece, se espatifou contra um barranco traiçoeiro. Não posso deixar de pensar que, se eu fosse um estrangeiro, ignorante da sensatez, hábitos comedidos e alto nível de consciência social do povo de nosso país, e certamente, inoculado por grande dose de preconceito e má vontade, não poderia deixar de pensar que se trata de gente desprovida de valores, escasso instinto de sobrevivência, inferior aos insetos que buscam abrigo ao pressentirem o chinelo exterminador.
Ao sair da Fernão Dias, na estrada estadual sou envolvido por nuvens de fumaça causada por inúmeros incêndios ás margens da estrada. Os múltiplos focos indicam claramente a origem deliberada do fogo. É apenas um pequena diversão para uma gente que, a semelhança de crianças perversas e inconscientes, pratica sua brincadeira mais excitante.
São piromaniacos destrutivos e inconseqüentes. Enfim, chego a minha porteira e não contenho um suspiro de alivio ao pensar que ele ficarão de fora.

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