quarta-feira, 21 de outubro de 2009

O Reality Show dos infernos...

Todos os mais ou menos instruídos e letrados sabem do que trata a expressão Big Brother, a entidade estatal que controla e vigia todos os cidadãos de uma Inglaterra distópica e totalitária, no pessimista e sombrio romance 1984, de George Orwell, aliás, Eric Blair.
1984 é somente a meia inversão do ano 1948, em que o livro foi escrito, e nessa época os intelectuais temiam a ameaça do avanço institucional em sua privacidade, e o controle de sua vida íntima, tanto ou mais que temiam a guerra e a fome, pela experiência com a primeira metade do século XX de duas guerras mundiais, genocídios, revoluções e opressão disseminada.
De certo modo vivemos hoje um tipo de inversão dos valores – o medo da vigilância trocado pelo medo do anonimato.
Taí os reality shows televisivos que não me deixem mentir. E as “celebridades” produzidas se deixando filmar em plena atividade do “abraço genital” na praia e depois alegando invasão de privacidade, para que a comoção seja ampliada e seus nomes permaneçam ainda mais tempo em evidencia.
Na verdade eu não sei o que acontece nesses programas.
Sei o que repercute no noticiário. Mas a televisão é uma entidade que carrega muitos atributos da divindade.
É onipotente, onisciente e principal e dolorosamente, onipresente; vc não escapa dela – na sala de espera do laboratório para fazer os exames, no hall do hotel, em muitos e muitos bares... Em toda parte.
E por força dessa onipresença vi recentemente algo que destruiu minha ilusão que nada mais podia me espantar: No Jornal Nacional da Rede Globo – não num desses circos de horrores dos canais populares – um casal explica pacientemente como fez para instalar uma câmera e registrar dias seguidos dos maus tratos e abusos que uma enfermeira-monstro impunha a uma senhora idosa e imobilizada por doenças da idade, que parecia ser a mãe de um deles.
Após a exibição dos tapas, empurrões, beliscões, puxões de cabelo que a diabólica criatura infligia à anciã, depois de informar que a policia já tinha prendido a malvada, o casal é perguntado pela jornalista a quanto tempo aquilo ocorria e ambos, candidamente, informam que a mais de 6 meses já sabiam, porque os vizinhos davam noticias dos gritos da vitima.
E eles foram pacientemente buscar um especialista para instalar o aparato tecnológico de vigilância e gravação de imagens e sons das torturas que sofriam seu ente – supostamente – querido.
E isso não é algo isolado, essas coisas estão na moda; quase todo o dia se vê algo assim. Bebês lançados ao chão por babás infernais e crianças e incapazes sendo vítimas de degenerados de todo tipo; tudo devidamente filmado pelas famílias. Para passar na TV em horário nobre.
Eles parecem não levar em conta em nenhum momento o padecimento das infelizes e indefesas criaturas. Só desejam boas imagens que aticem o sadismo de jornalistas e publico e lhes garantam seus 15 minutos de fama.
Como disse, passei longo tempo pensando que não iria mais me espantar com nada; estava enganado.

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