sábado, 31 de outubro de 2009

Televisão é coisa do diabo..

Costuma-se dizer que a ditadura militar “foi derrotada pelas forças democráticas” – movimentos sociais, intelectuais orgânicos, imprensa liberal..enfim a sociedade civil organizada; sempre desconfiei muito da existência de tais entidade e sua capacidade de derrotar o que quer que seja. O poder militar ficou desmoralizado por si mesmo, por sua burrice e truculência, e, principalmente, ficou fora de moda no mundo inteiro e seus integrantes desconfiaram que estavam mesmo era fazendo o serviço sujo para outros.
Que estavam tirando a castanha do fogo com a mão do gato.
Mas derrotados mesmo não foram. Foram substituídos pela assim dita, mídia corporativa. As mesmas forças que instrumentalizaram os milicianos para seus objetivos, deixaram que levassem a culpa de tudo e com a modernização dos meios de comunicação – televisão em rede – perceberam que um tipo de controle mental que induz o povo ao consumo conspícuo, a cultura de massas embrutecedora e a indiferença individualista fariam o serviço de modo muito mais eficaz e relativamente indolor. A guerra que se escancara hoje em toda a America do Sul entre a mídia e os governos de leves inclinações populares escancara essa realidade, o que não é bom para seus operadores pq esse tipo de controle é tanto mais eficiente quanto invisível. Enfim podem alegar que a forma atual de ditadura é mais indolor que a anterior. Pode ser, mas que continua sendo uma tortura, isso continua. Basta ligar e TV e olhar.

quarta-feira, 28 de outubro de 2009

Deus e a redução do IPI

Deus e a redução do IPI

1-Aqui em BH ta cheio de carros escrito assim na trazeira: Foi Deus quem me deu..
2-Para minimizar a crise mundial decretada pela Miriam Leitão e seus suínos amestrados, o governo resolveu reduzir o Imposto sobre Produtos Industrializados dos carros.
3- Os carros que Deus deu ao pessoal são geralmente kombis meio baleadas, uns Uno Mille sem fôlego, uns Opalas no estado em que se encontram e veículos similares.
4-Daí fico pensado que nem a redução dos impostos fez com que o Todo Poderoso fosse um pouco mais generoso com o pessoal e comprasse umas viaturas mais bacanas?
Ou a crise inventada pelo PIG – Partido da Imprensa Golpista, pegou mesmo foi nas finanças celestiais? Quem tiver uma boa resposta favor se manifestar no espaço próprio.

terça-feira, 27 de outubro de 2009

O País dos Minineros

É uma viagem comum, de rotina, que faço com freqüência da capital para o interior. Meados de setembro, final do período seco. Vegetação desidratada, ar ressequido, poeira e folhas secas por toda parte.
Logo na saída, há uns 40 km, trânsito retido, com a tradicional fila interminável de carros parados prenunciando o desastre recorrente que passa a fazer parte da paisagem, nessas viagens. Quarenta minutos depois, pista liberada, posso ver 3 caminhões e quatro carros semidestruidos, ainda fumegantes, sendo removidos para as margens. Joga-se serragem sobre o combustível derramado, retiram-se fragmentos de cargas e pedaços de veículos. Procuro não olhar diretamente para os veículos ou pessoas feridas deitadas no acostamento.
Nada disso me impressiona muito, atualmente. Nem os números, absurdos, nos quais só se pode acreditar porque os vemos acontecer diante dos olhos todos os dias. Falam em 50.000 mortos em colisões e atropelamentos por ano no país. Isso somente dos que morrem no local, sem contar falecimentos após o atendimento imediato, quando tem.
É mais gente morta no período de um ano que em qualquer guerra moderna. Mas, como disse isso não impressiona mais. Muito mais espanto causa o tratamento dado pela mídia, jornais e televisão, que sempre falam em “acidentes causados pela chuva” ou pelas “más condições das estradas” como se isso fosse possível. Quando muito concedem algum credito a “falhas humanas” como se existisse outro tipo de falha.
A viagem continua, e um pouco mais a frente sou envolvido e ultrapassado por um bando ruidoso e ziguezagueante de motoqueiros que, festivos e barulhentos, somem na próxima curva, como um enxame de abelhas gigantes. Em minutos os encontro novamente, recolhendo partes de maquina e corpo de colega que, ao que parece, se espatifou contra um barranco traiçoeiro. Não posso deixar de pensar que, se eu fosse um estrangeiro, ignorante da sensatez, hábitos comedidos e alto nível de consciência social do povo de nosso país, e certamente, inoculado por grande dose de preconceito e má vontade, não poderia deixar de pensar que se trata de gente desprovida de valores, escasso instinto de sobrevivência, inferior aos insetos que buscam abrigo ao pressentirem o chinelo exterminador.
Ao sair da Fernão Dias, na estrada estadual sou envolvido por nuvens de fumaça causada por inúmeros incêndios ás margens da estrada. Os múltiplos focos indicam claramente a origem deliberada do fogo. É apenas um pequena diversão para uma gente que, a semelhança de crianças perversas e inconscientes, pratica sua brincadeira mais excitante.
São piromaniacos destrutivos e inconseqüentes. Enfim, chego a minha porteira e não contenho um suspiro de alivio ao pensar que ele ficarão de fora.

domingo, 25 de outubro de 2009

A Epifania do Fantasma

Epifania é iluminação da mente, a compreensão súbita, a revelação. De repente uma coisa que vemos com freqüência ganha sentido novo e percebemos algo que não víamos antes, oculto na trama do tecido da normalidade aparente.
O filme citado no titulo, O Fantasma da Liberdade de Luis Buñuel, o gênio do surrealismo escrito a quatro mãos com o roteirista Jean Claude Carriére, ele todo um desvelamento do absurdo do cotidiano, mas uma seqüência em particular condensa e sintetiza todo o sentido: Na escola, no recreio, a professora dá por falta de uma aluna, manda todos voltarem a seus lugares na sala de aula para que possa se assegurar da ausência da menina. Em seguida chama a diretora da escola que telefona para os pais da desaparecida, que em minutos se apresentam na sala de aula e ouvem a historia, entre irritados e perplexos. Chamam a polícia que comparece e começa a entrevistar os alunos, e quando pedem a descrição da menina para passar aos demais policiais, nas ruas, a providência surpreendente da professora é apontar para a carteira da estudante, de onde a mesma dá sinais de impaciência com o alvoroço, e pela falta de atenção com sua presença em seu assento. O policial se aproxima dela, e com naturalidade, passa a observar sua estatura, cor dos olhos, cabelos, roupas, e outras características que anota em um bloco e ordena ao auxiliar para repassar as informações aos demais integrantes do contingente, para que possam procurar a desaparecida.
Confesso que na época não estava preparado para aquilo. Mas com o passar dos anos, em algum momento, de repente tudo ficou óbvio: é isso, é assim que as coisas são todo o tempo. É só observar com outros olhos, desembuçados pela cegueira da “normalidade”, isso acontece a todo momento em volta de nós e não vemos quase nunca.
Toda hora, em todo lugar, tem alguém procurando uma menina “desaparecida” que nunca saiu do seu lugar.

sábado, 24 de outubro de 2009

Oh..Que Delicia de Guerra

Em “Quanto Vale ou é Por Quilo? “ Filme do Sergio Bianchi sobre ONGS no Brasil e sobre o país mesmo, em sua ótica, digamos hipercrítica, alguém diz: “no Brasil os séculos não passam, ele se superpõem”... Passado e presente então dentro um do outro. É novamente tempo de guerra entre bandidos e policia no Rio de Janeiro.. Confusa, absurda, bizarra e sangrenta como todas. Mas aqui tudo parece um pouco mais estranho: nas fotos que retratam cenas de tiroteios com armas pesadas, carros incendiados, corpos no chão tem sempre alguém em primeiro plano sorrindo e quase dando tchauzinho pra câmera. Isso definitivamente não se vê em nenhuma guerra que se dê ao respeito...

quarta-feira, 21 de outubro de 2009

O Reality Show dos infernos...

Todos os mais ou menos instruídos e letrados sabem do que trata a expressão Big Brother, a entidade estatal que controla e vigia todos os cidadãos de uma Inglaterra distópica e totalitária, no pessimista e sombrio romance 1984, de George Orwell, aliás, Eric Blair.
1984 é somente a meia inversão do ano 1948, em que o livro foi escrito, e nessa época os intelectuais temiam a ameaça do avanço institucional em sua privacidade, e o controle de sua vida íntima, tanto ou mais que temiam a guerra e a fome, pela experiência com a primeira metade do século XX de duas guerras mundiais, genocídios, revoluções e opressão disseminada.
De certo modo vivemos hoje um tipo de inversão dos valores – o medo da vigilância trocado pelo medo do anonimato.
Taí os reality shows televisivos que não me deixem mentir. E as “celebridades” produzidas se deixando filmar em plena atividade do “abraço genital” na praia e depois alegando invasão de privacidade, para que a comoção seja ampliada e seus nomes permaneçam ainda mais tempo em evidencia.
Na verdade eu não sei o que acontece nesses programas.
Sei o que repercute no noticiário. Mas a televisão é uma entidade que carrega muitos atributos da divindade.
É onipotente, onisciente e principal e dolorosamente, onipresente; vc não escapa dela – na sala de espera do laboratório para fazer os exames, no hall do hotel, em muitos e muitos bares... Em toda parte.
E por força dessa onipresença vi recentemente algo que destruiu minha ilusão que nada mais podia me espantar: No Jornal Nacional da Rede Globo – não num desses circos de horrores dos canais populares – um casal explica pacientemente como fez para instalar uma câmera e registrar dias seguidos dos maus tratos e abusos que uma enfermeira-monstro impunha a uma senhora idosa e imobilizada por doenças da idade, que parecia ser a mãe de um deles.
Após a exibição dos tapas, empurrões, beliscões, puxões de cabelo que a diabólica criatura infligia à anciã, depois de informar que a policia já tinha prendido a malvada, o casal é perguntado pela jornalista a quanto tempo aquilo ocorria e ambos, candidamente, informam que a mais de 6 meses já sabiam, porque os vizinhos davam noticias dos gritos da vitima.
E eles foram pacientemente buscar um especialista para instalar o aparato tecnológico de vigilância e gravação de imagens e sons das torturas que sofriam seu ente – supostamente – querido.
E isso não é algo isolado, essas coisas estão na moda; quase todo o dia se vê algo assim. Bebês lançados ao chão por babás infernais e crianças e incapazes sendo vítimas de degenerados de todo tipo; tudo devidamente filmado pelas famílias. Para passar na TV em horário nobre.
Eles parecem não levar em conta em nenhum momento o padecimento das infelizes e indefesas criaturas. Só desejam boas imagens que aticem o sadismo de jornalistas e publico e lhes garantam seus 15 minutos de fama.
Como disse, passei longo tempo pensando que não iria mais me espantar com nada; estava enganado.

terça-feira, 20 de outubro de 2009

O Paredão existe…
Macondo, Canudos, Ítaca e Dublin são lugares remotos e míticos dos livros. Na parte mais desolada do que restou do Grande Sertão, seu vilarejo mais desolado e esquecido, onde a eletricidade só chegou há poucos anos, pode ser equiparado a essas cidades, reais ou imaginarias. E está lá, pra ser visto por quem se aventurar. Nas fotos, o barranco do Rio do Sono que empresta o nome ao lugar.
“E cheguei no Paredão, na derradeira boa-lua da tarde” é como um certo João Guimarães Rosa o introduz na parte final de livro Grande Sertão: Veredas, e é onde se passa a parte final do épico sertanejo, quando chegam o jagunço Diadorim, a moça Maria Deodorina, a morrer de amores por seu chefe Riobaldo e de ódio por Hermógenes, o “cão”. Se quiser conhecer tem de ir depressa porque o pequeno burgo – distrito do municipio de Buritizeiro/MG, pode desaparecer de uma hora para outra engolido pelo oceano de eucaliptos plantados para fazer gusa, papel e carvão.





segunda-feira, 19 de outubro de 2009

a origem

a origem
Em certa época muito antiga, os governantes e responsáveis pelas nações civilizadas da Europa se viram as voltas com um problema muito delicado: o aumento desmedido dos casos de demência em filhos das famílias mais importantes das nações da região. Como não tinham muito escrúpulos (os governantes e as famílias), depois de alguma ponderação (muito pouca pra falar a verdade) resolveram embarcá-los todos em navios, custeados pelos governos, é claro, e lançá-los ao mar, a sua própria sorte. O grau de loucura dos embarcados variava muito - dizem mesmo que muitos nem eram loucos, eram só meio esquisitos - e potencialmente perturbadores da ordem, e o pessoal aproveitou pra se livrar deles também. Esses tomaram a direção das embarcações e simularam um tipo de organização durante o trajeto e depois de aportarem na nova terra. Por feliz coincidência um novo mundo era recém descoberto e alguns do pretensos pilotos - enlouquecidos justamente em viagens pretéritas a nova terra - conheciam o caminho, não foi difícil se guiarem até o novo local de moradia. E aqui fundaram um simulacro de nação de dementes, tal como eram capazes em seu delírio e perturbação. Essa é verdadeira historia da parte sul do continente e sua origem, e não a que consta nos livros de historia que é um outro tipo loucura. Mas isso já é uma outra estória.